sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

SÃO LUÍS – MA “UMA PEQUENA ABORDAGEM” FOTOS ILUSTRATIVAS

SÃO LUÍS – MA, UMA PEQUENA ABORDAGEM.

Andar pelas ruas de São Luís (com s e í com acento) – MA, é estar vivenciando séculos de história. Cada canto, cada prédio, cada sacada, cada rua, cada beco e etc, contam uma história. Histórias do Brasil, do Maranhão, dos povos que migraram e aportaram aqui, para povoar e desenvolver a nova Colônia de Portugal, a partir de 08 de Setembro de 1612, o dia em que o navegante francês, Daniel de la Touche, Senhor de la Ravardiere, desembarcou na Praia Grande e fundou a Cidade de São Luís. Seu nome, em homenagem ao Rei Menino de França, Luís XIII, seria a capital da França Equinocial, que não chegou a ser consolidada, conforme o propósito da invasão. Logo em seguida os holandeses os expulsaram, e de imediato os portugueses retomaram a Ilha, comandados por Antonio Teixeira de Melo, um dos principais líderes do movimento, expulsando os holandeses definitivamente do Maranhão e continuando com o mesmo nome da nossa Ilha, São Luís, até nossos dias. Contam que na batalha final da expulsão dos holandeses, faltou pólvora para recarregar os canhões, quando surgiu Nossa Senhora da Vitória, em traje de mulher, mandou que os soldados substituíssem a pólvora por areia, o que foi obedecido pelos soldados, e por milagre funcionou. Daí a derrota da frota holandesa, que “bateu em retirada” com os poucos navios que restaram. De 1641 a 1644, foi o período da ocupação holandesa, em São Luís. O nome Maranhão vem do holandês, “Maragnom”, água que corre brigando, uma alusão ao Boqueirão, área na confluência das Baías de São Marcos e São Luís, trecho profundo que fica em frente à cidade de São Luís, portão de entrada ao Porto do Itaquí.   
Hoje, as vésperas de comemorar o IV Centenário de sua fundação, que será festejado em 08 de Setembro de 2012, São Luís, Patrimônio Mundial da Humanidade, reconhecida e titulada pela UNESCO, ostenta com as suas construções, a maioria de sobradões com sacadas e grades de ferro, fundidas na Inglaterra, e mirantes de frente para o mar, servindo de vigia no alto das construções. Suas fachadas revestidas de azulejos coloridos, trazidos de Portugal, a moldura das portas e janelas em sua maioria confeccionadas em pedra de cantaria, talhadas manualmente e polidas, algumas com detalhes em relevo, também trazidas de Portugal, servindo de lastro aos navios, hoje formam o maior conjunto arquitetônico de casario preservado dos séculos XVIII e XIX. Com calçadas, guia (meio fio), piso de sacadas e boca de lobo de esgotos pluviais, também em pedras de cantaria esculpidas a mão, com relevo ou lisas polidas, que faz realçar a beleza de nossas ruas estreitas, becos e escadarias, na região do Projeto Reviver. Área urbanizada mais antiga de São Luís, junto ao antigo porto, aonde chegava navios vindos da África, cheios de escravos, que eram vendidos em leilão na Casa das Tulhas, hoje Feira da Praia Grande, a quem oferecesse melhor lance. Presos em moirões, depois de vistoriados e examinados todo corpo, onde a aprovação melhor seria os dentes. Dali partia para o interior, separados a força do seio da família, levados para longe, na condição de escravos, onde ficavam os Engenhos de fabricação de açúcar, o principal produto de exportação. O povo maranhense, na sua maioria, tem no sangue o DNA da raça negra, que representa a cor morena da nossa gente. Suas crenças, festas, folguedos e costumes são cultuados, principalmente por quilombolas, arquivos vivos da História de seus antepassados, e que são os verdadeiros precursores dessa semente que não se deixa desaparecer.



São Luís foi palco de muitas lutas no período Colonial e durante o Império. Batizada pela alcunha de “Ilha Rebelde”, alusão a sua adesão a Independência do Brasil, que somente aconteceu em 28 de Julho 1823 ,   teve mais levantes regionais: Revolta de Bequimão, 1684; Guerra da Balaiada, 1838/1841, sufocada por Luís Alves de Lima e Silva, mais tarde, Duque de Caxias, o Patrono do Exército Brasileiro, cujo nome Caxias, provém da cidade maranhense Caxias. (Foto 01/01A). 

Foto 01 - Sobrados - Rua do Trapiche.
Foto 01/A- Rua do Giz.
Foto 01/B - Sobrado - Rua do Passeio.


O resgate das nossas relíquias seculares deve-se em parte ao Projeto Reviver, criado na década de 80 para recuperar da degradação, tanto os prédios quanto as ruas no trecho antigo de São Luís. Poderia ter tido um alcance maior. Os prédios não chegaram a 10% do total tombado, a área em si, não chega a 40%. As ruas fora da área recuperada ainda estão preservadas, apesar da falta de cuidado especial que a condição requer. O mesmo não se pode falar dos prédios antigos espalhados por toda cidade. São residências pequenas, médias e grandes casarões com denominações diversas: Meio morada, conhecidas como “porta-e-janela”; morada inteira, com a fachada composta de uma porta e duas janelas; bangalô, com varanda na entrada, via de regra, um coreto na altura do muro, para descanso, assistir procissão ou carnaval de rua e festejar eventos comemorativos da família; grandes sobradões, com varandas longas, sempre um poço tipo cacimbão no pátio interno, muitas dessas construções com senzalas para a criadagem. Muitos prédios abandonados pelos donos, que preferem a destruição, para aproveitarem com construções modernas dadas a valorização pela localidade onde estão edificados. É uma constante em quase todas as ruas, encontrar prédios escorados, com fachadas remendadas, sem cobertura, ruindo aos poucos, como se estivessem brigando com o tempo para não desaparecer. Enquanto se assiste a desconstrução dessa beleza secular, o Serviço de Patrimônio como que se cruzasse os braços, para ver acontecer uma das maiores catástrofes, sucumbir com o tempo, o desaparecimento destes monumentos históricos mais ricos em detalhes e consistência longeva que se tem conhecimento, aqui no Maranhão, no Brasil e no mundo. (Foto 02). 

Foto 02-Prédio da Secretária de Saúde do Maranhão - Rua do Passeio.



Hoje ainda vemos os casarões que funcionavam - e até hoje funcionam - como Cortiços e Pensões, que inspiraram Aluisio de Azevedo, nos romance “O Cortiço” e “Casa de Pensão”, apesar de ter como cenário o Rio de Janeiro, capital da Brasil, no limiar da nova República, recém proclamada, àquela época. (Foto 03).
Foto 03 - Sobrado Rua do Passeio - Praça Deodoro.



Construções seculares.
Igrejas: Nossa Senhora da Vitória (Nossa Catedral),  Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora dos Remédios, Nossa Senhora Santana, São João, São Pantaleão e Santo Antonio, que pertence ao Seminário Santo Antonio, palco do discurso de Padre Antonio Vieira do Sermão aos Peixes. (Foto 04).

Foto 04 - Seminário de Santo Antônio.


Prédios: Destacamos o Palácio dos Leões, (Sede do Governo do Estado Maranhão); Palácio La Ravardiere, (Sede da Prefeitura de São Luís); Seminário Santo Antonio; Convento das Mercês; Convento do Carmo; Orfanato Santa Luzia; Teatro Artur Azevedo; Palácio do Comercio; Centro Caixeral; 24º Batalhão de Caçadores, o único com essa denominação no Brasil, em homenagem ao Patrono do Exercito Brasileiro, o Duque de Caxias, seu fundador; Fabrica Cânhamo; Alfândega (Câmara dos Vereadores); Tesouro do Estado; Hospital Presidente Dutra; Museu Histórico do Maranhão; Estação da REFESA; Prédios da Westren Telegrath Company, da Praça Dom Pedro II e Praia do Olho D’água; Biblioteca Pública Benedito Leite; Santa Casa de Misericórdia; Colégio Marista; Fabrica Rio Anil; Liceu Maranhense; Palácio Gentil Braga. (Foto 05 e 05A).
Foto 05 - Palácios dos Leões - Sede do Governo do Maranhão.
Foto 05/A - Palácio La Ravardiere - Sede do Governo Municipal de São Luís.
Foto 05/B - 24º Batalhão de Caçadores.


Espaços Públicos: Praça Dom Pedro II; Praça Benedito Leite; Praça João Lisboa; Largo do Carmo; Praça Odorico Mendes; Praça Gonçalves Dias, conhecida também como Praça dos Amores; Praça Santo Antonio; Praça Deodoro; Praça da Misericórdia; Praça Duque de Caxias; Avenida Beira Mar; Praça da Pedra da Memória; Casa das Tulhas, (Feira da Praia Grande); Cais da Sagração; Praça da Saudade; Oiteiro da Cruz; Forte de São Marcos; Forte da Ponta D’areia. (Foto 06). 
Foto 06 - Praça Gonçalves Dias ou Praça dos amores.




Ruas de nomes inusitados.
Rua do Passeio, Avenida Beira Mar, Rua do Sol, Rua da Paz, Rua da Estrela, Rua Direita, Rua da Inveja, Rua dos Veados, Rua da Alegria, Rua das Flores, Rua das Hortas, Rua do Ribeirão, Rua do Giz, Rua dos Afogados, Rua do Trapiche, Rua Montanha Russa, Beco da Catarina Mina, Beco Escuro, Beco da Bosta, Beco do Quebra Bunda, Rua do Alecrim, Rua da Arrelia. (Foto 07; 07A;).
Foto 07 - Praça Maria Aragão e Avenida Beira Mar.
Foto 07/A - Beco de Mina.



Praias.
Ponta D’Areia, São Marcos, Calhau, Olho D’Água, Praia do Meio, Araçagi, Raposa, Panaquatira, Caúra, Vieira, Barbosa, Boa Viagem, Praia da Guia, Praia do Meio. (Foto 08).

Foto 08 - Sereia da Ponta D' Areia - 1985.
Foto 08/A - Praia da Ponta D' Areia - 2011.



Evangelização.
Os Jesuítas, Os Franciscanos, Os Mercedários. (Foto 09).      

Foto 09- Convento das Mercês.
Foto 09/A - Igreja Nossa Senhora do Carmo.



Presentes da natureza.
A marca principal da colonização portuguesa no Brasil era o abastecimento de água para o consumo humano. Poços escavados por escravos com paredes revestidas de pedras extraídas de jazidas próximas e fontes com muros de arrimo com água canalizada por bocas de carrancas de leões e outras figuras decorativas. Em São Luís não foge a regra. Temos a Fonte do Ribeirão, Fonte do Bispo e Fonte das Pedras, onde acampou Jerônimo de Albuquerque e sua tropa, durante a expulsão definitiva dos Holandeses do Maranhão. Na maioria das casas coloniais do Centro Histórico encontram-se grandes poços até hoje preservados. Temos galerias inacessíveis sem catalogação, preservadas, sem visitação publica. (Foto 10 e 10/A).  

Foto 10 - Fonte do Ribeirão.

Foto 10/A - Fonte das Pedras.





Muitas lendas.
 - A carruagem de Ana Jansen, percorrendo as ruas calçadas de pedras de cantaria e paralelepípedos, com aquele barulho característico de rodas de madeira, protegidas por laminas de ferro, o inconfundível tropear dos cascos dos cavalos com ferraduras sobre as pedras e o ranger das correias de couro cru, que formavam o conjunto de tração, em plena meia noite, principalmente na Rua da Estrela e adjacências da Alfândega, (Câmara de Vereadores) e Casa das Tulhas, (Feira da Praia Grande). Há quem acredite que além de São Luís, Ana Jansen perambulava também, pelas Ruas de Alcântara e Viana pagando sua penitência e causando verdadeiro terror a quem ouvia o barulho da carruagem passando sempre a meia noite. Ninguém se atrevia a colocar a rosto na janela para espiar.
Só a tropeada já era o bastante para as pessoas não ousar a vê-la. Seria maldição na certa. Com coisas do outro mundo não se brinca. Velho adágio dos antigos. (Foto 11).

Foto 11 - Lagoa da Jansen.
Foto 11/A - Lagoa da Jansen.



 – A serpente moradora sob a cidade de São Luís. A sua cabeça fica posicionado, debaixo do Tesouro de Estado, próximo ao Cais da Sagração, seu corpo estende-se até a Igreja de Santo Antonio, passando pela Praça João Lisboa, Igrejas: do Carmo e São João. (Foto 12).

Foto 12 - Igreja de Santo Antônio.



 – O Touro Encantado da Praia dos Lençóis, é Dom Sebastião, Nobre Português, desaparecido provavelmente na costa do Maranhão, caminha pelas ondas até as Praias da Ponta D’areia,  Praia da Guia e outras, avistado de São Luís, pelos enamorados que curtem a Avenida Beira Mar, nas noites enluaradas, em plena maré cheia. Dom Sebastião é guia de Umbanda. Incorpora nos aparelhos em todas as festas e serviços aos Orixás. Relacionado sempre com as Praias dos Lençóis, na costa noroeste do Maranhão, no município de Cururupu, onde vive uma família de albinos, que antes eram chamados de Filhos da Lua. Com a pele sensível de cor rosa não tomava sol, pescavam sempre à noite. Daí a alcunha “Filhos da Lua”.
 – Iemanjá a Rainha das Águas que se diz dona do Porto do Itaquí. Onde, durante a construção houve muitos contratempos e acidentes, antes de sua permissão e autorização de todos os Orixás, serem concedida pela Rainha das Águas, para a sua construção. (Foto 13).

Foto 13 - Oferendas para Iemanjá.


Dia 31 de Dezembro é a comemoração de Iemanjá. Meia noite as praias ficam cheia de Terreiros com Filhos e Filhas de Santo paramentado, com oferendas que são jogadas ao mar. Os tambores rufam até alta manhã de 1º de Janeiro do novo ano. Os simpatizantes fazem filas para receber benção das entidades baixadas nos aparelhos. O colorido das indumentárias, com a predominância do branco, ao nascer do sol, com os raios cintilantes espelhados nas ondas de uma maré cheia, dá um colorido único, com os sussurros das ondas quebrando e ventos reverberando nos ouvidos num sussurro que somente o mar é capaz de fazer. (Foto 14).
Foto 14 - Festejando Iemanjá.



 – Nas praias, Barbosa e Vieira, em São José de Ribamar, todas as manhãs os Sacristãos faziam uma varredura sobre a orla, para recolher as oferendas de São José de Ribamar, trazidas pelas marés, principalmente oriundas da Baixada, que eram jogadas no Boqueirão, que o próprio mar se encarregava de proteger e manter viva as oferendas, principalmente quando se tratava de animais, transportá-las até o seu destino, contados e testemunhados por antigos moradores de Ribamar. Assim como a destruição inúmeras vezes da Igreja, por motivo da frente dela ser para a cidade. Este fato só parou de acontecer quando a Igreja foi construída com a frente para o mar, como se encontra até hoje. (Foto 15).
 - A criação do nosso Poeta Maior Gonçalves Dias, “Canção do Exílio”, vários versos foram usados, para embelezar as estrofes do Hino Nacional, ‘... Nossos bosques têm mais vida, nossa vida em teu seio mais amores... ’.

Foto 15 - Igreja de São José de Ribamar.



Nas lendas não pode faltar às histórias folclóricas dos mentirosos, uma delas é:
- Duque de Caxias apear de seu cavalo e deixá-lo pastar nas imediações da praça onde está edificada a sua estátua, em frente ao Quartel do 24° Batalhão de Caçadores, durante a noite de lua cheia. Várias testemunhas oculares afirmavam em conversa no abrigo do João Paulo, onde faziam suas farras antes de ir para o Carrinho ou Zilóca. (Foto 16).

Foto 16 - Praça Duque de Caxias.



Muitos personagens também devem ser lembrados.
- Rei dos Homens. Mendigo de rua, morador da Praça João Lisboa/Largo do Carmo, sempre bem vestido, com terno impecável. Ao se encontrar com qualquer pessoa pedia 50 cruzeiros. Falava em tom grave, parecendo locutor de rádio. Houve uma confusão política com a posse de Eugenio Barros, como Governador do Maranhão, na década de 1950. Um dos adversários ferrenho era Capitão Godim, como seu maior opositor. Conversaram com o Rei dos Homes, oferecendo-lhe uma boa quantia em dinheiro, para empunhar uma bandeira e seguir em frente dos insurgentes, comandando a passeata, partindo do Largo do Carmo até a Praça Pedro II, pela Rua de Nazaré, Praça Benedito Leite, gritando palavra de ordem. Tomou a dianteira conforme o combinado, até o início da Praça Benedito Leite. Parou, olhou soldados da Polícia armados em frente ao Palácio dos Leões, largou a bandeira e disse para a pequena multidão. ... Receba a bandeira de vocês, eu sou é doido e não burro. ... Largou a bandeira e voltou para a praça. (Foto 17).

Foto 17 - Praça João Lisboa.


- Na Igreja de Nossa Senhora da Vitória (Igreja da Sé), Catedral Metropolitana do Maranhão, em São Luís, diariamente uma senhora de idade avançada, fazia de púlpito a calçada da frente, amparada na mureta de proteção. Discursava durante todo o dia, fazendo gestos. Eu mesmo por várias vezes me aproximei para tentar entender o que ela falava. Palavras murmuradas dada a rouquidão de tanto falar. O traje típico de religiosa. Um pano sobre a cabeça, estilo véu. Roupa longa, saia e blusa com manga comprida. Só parava para se alimentar. (Foto 18).
Foto 18 - Igreja da Sé.


- O Homem Cabeludo, chamado assim dado a sua fisionomia e não lhe perguntavam o nome, morador da Praça Benedito Leite, com uma farta cabeleira entrançada, estilo rabo de cavalo, com aproximadamente 15 cm de diâmetro junto à cabeça, que se estendia até o chão. Andava com os cabelos enrolados como se fosse corda. Tinha sempre papeis escritos de próprio punho, com desenhos ou palavras. O nome dele ninguém sabia. De vez em quando, se pendurava numa árvore da praça, pelos cabelos e passava o dia todo suspenso. Viveu muitos anos naquela praça. Já fazia parte da mesma como uma criatura folclórica. (Foto 19).
Foto 19 - Praça Benedito Leite.


- Zé Negreiro, dono de Grande Terreiro de Mina em São Luís, no bairro do Turu. Até uns anos atrás, ainda existia o mourão do centro do terreiro. Além de grandes festas promovidas no terreiro, deu assistência espiritual e promoveu curas de muitos males da saúde de pessoas carentes durante toda a vida. Não se tem notícias de maldades e nem violências praticadas naquele Terreiro dos Orixás. De tanta popularidade passou a ser figura folclórica em São Luís. Citado em música regional, nestes versos: ... “Formaram a roda de coco; Na casa de Juliana; A coisa lá tava boa; Durou mais de uma semana; As mulheres que estavam na roda; Dançavam e pulavam naquele salão; Cantavam o coco baiano com grande animação; Zé Negreiro na roda do coco dançava, pulava e rufava o pandeiro; Juliana deu um nó na saia desafiando Zé Negreiro” .. (Foto 20).
Foto 20 - Imagem e Símbolos do Terreiro de Mina.



Tradições culturais.
- Bumba-meu-boi, tem Associação secular. Boi da Maioba. O mais tradicional com sua representação cultural e apresentações mais aprofundadas dos costumes e rituais dramáticos, líricos com a sensibilidade do negro, do caboclo, do índio e seus descendentes, tal como era, na época colonial, imperial, com essa mistura de etnias, que perdura até hoje e abrilhantam um espetáculo inconfundível e único. Os Bois se diferenciam pelo sotaque, instrumentos,  batidas, indumentárias, chapéus, peitorais, tangas, passos, apetrechos como varas de ferrão usadas por vaqueiro, maneira de se apresentar, diferenciados conforme as regiões com suas tradições cultuadas até o presente, inconfundíveis para os maranhenses. Temos Boi da Baixada, Boi de Pindaré, Boi de Fita, Boi de Matraca, Boi de Orquestra, Boi de Caboclo, Boi da Madre Deus, o mais novo com inovações diferenciadas, o Boi Barrica o mais famoso, pelo conjunto e lindas apresentações, que vem representando o Maranhão no Brasil e no exterior e tantos outros, cada um com suas características e particularidades. No interior ainda são pagas as promessas para São João. Ao contrario da capital que já fazem parte totalmente do folclore que são apresentados em palcos espalhados por toda São Luís. (Foto 21).


Foto 21 - Bumba - Meu - Boi.


- Tambor de Mina, chamado de Candomblé de Tambor ou Terreiro de Mina, nos terreiros com rituais religiosos, tendo como Santos Padroeiros: São Sebastião, São Jorge, Santa Bárbara, São Benedito e adoração a Ogum, Oxossi, Iemanjá e tantas outras entidades de adoração do Candomblé. O Terreiro é sempre um Barracão espaçoso, com um altar nos fundos, com todas as entidades de adoração, representadas por imagens, retratos e símbolos. Do lado direito do altar, encontra-se o trono, constituído de uma cadeira confortável, envolta com toalhas bordadas, encosto alto, suportes laterais para os braços, sobre um tapete colorido, onde as Filhas e Filhos de Santo se põem de joelhos para saudar a Mãe ou Pai do Terreiro. Debaixo do altar uma pedra grande com um vaso com água, para os Filhos de Santo se admoestar e auto flagelar-se, de joelhos batendo com as duas mãos na pedra, molhada com água, até o tempo determinado pela Mãe ou Pai do Terreiro, suficiente para se redimir de erros cometidos pelo aparelho, (Mãe ou Pai de Santo em transe), contrário as doutrinas estabelecidas pelo Culto do Candomblé. Tendo como instrumentos de acompanhamento, três tambores de percução, coberto com pele (de cobra) dos dois lados, colocados em duas forquilhas (estacas) cada um, na posição horizontal, batidos com as duas mãos, com maracás de cabaça e triângulo de aço, compõe o instrumental, que em ritmos frenéticos e lentos, em sincronia com as cantigas dos guias, interpretada pelo Filho ou Filha de Santo em transe, acompanhados por todos os participantes em coro, os Filhos e Filhas do Terreiro dançam em grande roda, em fila indiana, movendo-se em sentido anti-horário. As mulheres com vestes a rigor. Vestidos longos com bordados coloridos, com cores de acordo com os Guias Espirituais, saias rodadas, com folhos largos. Uma toalha branca sobre o pescoço, denominada de espada, ostentada ao longo do corpo, por cima de colares de contas coloridos, que lhes vem até a cintura, delimitada por uma faixa apertada que lhes moldura a silhueta, na altura da cintura, quando se trata de vestido inteiro ou saia e blusa, com detalhes e acessórios iguais. Sobre a cabeça um lenço amarrado em forma de turbante, com grinaldas ou broches sempre com pedras coloridas, de acordo com os guias. Nas orelhas grandes brincos a maioria em formato de argolas, destaques principais para os rostos, impecavelmente maquiados. Os homens por sua vez, vestidos de calça predominantemente branca, camisas brancas normais ou modelo abada. Sobre a cabeça turbantes coloridos, colares coloridos, sobre os ombros, cruzados no tórax na frente e na costa, até a cintura, por cima das indumentárias, com a espada (toalha envolta ao pescoço), tal como nas mulheres. Os rituais das danças iguais para todos. Destaques para o Pai ou a Mãe do Terreiro, que fazem a abertura da cerimônia, entoando as primeiras cantigas, saudando a todos, salvando e abrindo o Terreiro para todos os Guias e entidades, tanto da linha branca quanto da linha negra, visitarem e se quiseram podem até incorporar nos aparelhos, supervisionados pelo Pai ou Mãe do Terreiro, sob licença e supervisão do Guia Patrono do Terreiro. Ao cometer qualquer deslize que contrarie os preceitos do Guia Patrono do Terreiro, será expulso imediatamente do aparelho e do recinto. E assim, este culto e seus costumes vêm atravessando séculos, embelezando as noites de São Luís, herança viva dos ancestrais negros vindos da África, que se erradicaram e vivem até nossos dias, dando esse colorido da nossa pele morena, disseminando seus costumes, credos e a maioria dos nossos folclores que tanto nos orgulha de ser maranhense. A duração dos festejos segue até uma semana, dependendo do tipo do trabalho encomendado ou simples comemoração nos dias dedicados aos Santos Padroeiros ou aos Orixás cultuados. (Foto 22).
Foto 22 - Tambor de Mina.


- Cura ou Terecô, paralelamente ao Tambor de Mina, tido como Terreiro de Maracá, ou Candomblé de Maracá, com indumentária semelhante aos Pais e Mães de Santo da Mina. O Pai ou Mãe do Terreiro, ostenta um maracá na mão direita. Os trabalhos são abertos sempre com uma ladainha, cantada por todos, e em seguida o Pai ou Mãe do Terreiro se afasta do recinto, (sala fechada), sai para o terreiro no escuro e invoca seus guias, manifestado por cantigas, no ritmo do maracá, começa a cantar, entra na sala, dá alguns passos meio cambaleantes, às vezes amparados por outros Filhos ou Filhas de Santo, segurando-lhes a testa. Todos os participantes da festa cantam em coro, batendo palmas no ritmo da toada, sobre a batuta do maracá, confeccionado de cabaça com cabo de madeira, coberto com uma rede de malhas, cheia de sementes duras em suas malhas, que ao ser sacudido faz o som característico de chiado do maracá. As velas coloridas fazem parte da festa. Cada encantado que visita o terreiro através do aparelho, festeja com bebidas e fuma cigarros especiais para a ocasião. Esse banquete se encontra debaixo do altar, por trás da cortina branca que cobre o altar até o chão. Somente o Pai ou Mãe do terreiro pode oferecer e convidar aos assistentes ou convidados e Filhos de Santo a participarem do banquete ofertado pelos Orixás. Os trabalhos como são chamados os cultos, são feitos e comemorados durante a noite. (Foto 23).
Foto 23 - Símbolos do Candomblé.



- O Bambaê ou Barulho de Caixa ou Terecô, acontece no fim de todos os ensaios das Caixeiras para os festejos do Divino Espírito Santo. Num ritmo frenético semelhante ao do mambo, elas começam a tocar e cantar em roda, versos rimados, intercalado com refrão que todos cantam. Todos do salão pegam seus pares e sai dançando com passos ligeiros e rodopiando, trocando de casais, até a festa acabar. A duração depende da disposição das caixeiras. Este ritual substitui orquestras, conjuntos e radiola, que são contratados para animar o baile no fim dos festejos e serve de ensaio para a última noite após todos os rituais da Festa do Divino, que é encerrado com o grande baile que se prolonga até o sol raiar. Muito interessante, é a felicidade das caixeiras ao tocar o Bambaê, onde tem a oportunidade de apresentar seus dotes poéticos, soltar sua voz, com melodias e versos improvisados. Independente da Festa do Divino a tocata acontecia em ranchos de lavradores, na época do corte manual do arroz, que se mudava para o rancho da roça com a família. Dependendo do tamanho, juntamente com outros agricultores, faziam as roças juntas e denominavam de Centro do Fulano. O nome normalmente era do lavrador mais velho. Nas noites após o jantar, se reuniam num rancho, sempre tinha caixeiras, às vezes até sem caixa tradicional para tocar. Aí o improviso era uma constante. Aproveitavam umas caixas de madeira que todos possuíam, chamada de alqueire, que nada mais era, que a medida do arroz com casca que pesava 30 quilos, ou seja, meia saca de 60 quilos. Nas caixas emborcadas, sentam os principais tocadores, e no ritmo do Bambaê e os versos de improviso cantados pelas mulheres, com refrão, entoados por todos, dançam, sapateiam agarrados, ou separados, as mulheres agarradas nas laterais (barras) das saias, quase sempre godê ou rodadas, em ritmos frenéticos, seguem até o amanhecer. Estes costumes, também chamado de Mangaba eram praticados no interior da Ilha e todo o Maranhão, principalmente na região da Baixada. Herança dos nossos negros, nos momentos de alívio do trabalho bruto, à noite antes de dormir.
- O Tambor de Crioulo, ritual de festejo a São Benedito, comemorado no dia do santo, com uma ladainha ao anoitecer, em seguida o inicio do tambor propriamente dito. No terreiro uma fogueira de toras de madeira para aquecer o couro dos tambores. Num total de três, tambor grande, socador e crivador, batido em compasso diferente, forma uma harmonia contagiante, com cantigas com versos curtos, refrão cantado por todos após cada verso. Os tambores são feitos de arvores ocas, com diâmetros variados; tambor grande, mínimo 0,50m; tambor do meio, socador máximo 0,30m; tambor pequeno, crivador máximo 0,20m. A cobertura e de couro de boi cru, cujos pelos vão se soltando ao longo do tempo. Fixados do lado de fora, por pequenos cravos de madeira, amarrados entre si com correias de couro cru, todo esse trabalho é feito com os pedaços de couro molhados com água, esticados ao máximo, para quando secar aumentar a tração. A afinação é feita a beira da fogueira, aproximando os tambores da labareda que com a temperatura alta o couro se retrai, até que cada tambor chegue à tonalidade desejada de cada tocador, como são chamados os músicos percussionistas do conjunto que constitui o Tambor de Criôlo propriamente dito.  Quem está na roda canta poesias, com os versos intercalados com o refrão. Terminada a rodada, os tocadores dão uma pausa. Corre uma rodada de bebida quente, quase sempre sem copo, na boca da garrafa. A fogueira sempre ao lado dos tambores que são colocados ao redor para dar o tom mais agudo, da afinação de cada tambor. Quando a festa começa a esquentar, as dançadeiras de punga entram na roda, com seus vestidos coloridos e estampados, saia godê de folhos, com as duas mãos segurando a beira da saia, levantada nos lados, mostrando as anáguas brancas bordadas. As bermudas cobrindo e protegendo as pernas até a altura dos joelhos. Dançam no ritmo da batida dos tambores e dão pungadas em todos os assistentes ao redor e a quem se atreve desafiá-las na roda do terreiro. Quando o desafiante se torna inconveniente, as dançadeiras maliciosamente dão rasteiras que os jogam ao chão, sob aplausos da platéia. Os terreiros na maioria das vezes são iluminados pela lua ou lamparina a querosene, aonde ainda não chegou à luz elétrica. Assim a festa vai até alta manhã. Gente de todas as raças e cores se confraterniza para que a promessa seja aceita pelo padroeiro do tambor, que é São Benedito. (Foto 24).

Foto 24 - Tambor de Crioula.



- Cacuriá da Dona Teté, o mais antigo e cultuado em São Luís. Cantigas em versos, acompanhada com batidas de caixa, composto de homens e mulheres, é um Bambaê estilizado, onde os componentes vestidos a rigor, dançam com suas parceiras, com passos ligeiros, característica de dança de negros, em grandes rodas, com o deslocamento sempre anti-horário, sendo uma das principais características de origem da +Raça Negra, cujos ancestrais vem dos Escravos vindo da África, no período Colonial do Brasil, que muito se confundem com o Tambor de Criôlo, Bambaê, Terecô ou Barulho de Caixa, Bumba-meu-boi, Carimbó, Siriá etc. Todas essas manifestações têm raízes Africanas. Com a mistura do negro, do índio e o branco europeu, que colonizaram o norte e nordeste brasileiro, em cada Estado tem manifestações seculares que se assemelham em algum ponto de suas representações. Do Pará até a Bahia, se encontra folclores parecidos na maneira de apresentação, porém com denominações diferentes.
- Outros cultos tradicionais que ainda se encontra em várias regiões do interior do Maranhão, que migraram de São Luís com a chegada do progresso e aumento da cidade, com população, vindas de todos os rincões do Brasil. Enumeramos: - Baile de São Gonçalo; - Chegança com a finalidade de adquirir presentes e recolher promessas para a Festa do Divino; - Queima das Palhinhas; - Festa dos Santos Reis; - As Pastorinhas; - As Novenas, sempre que antecede as festas tradicionais em lugarejos, no interior do Maranhão; Há Santo cultuado no Maranhão que não há referência em qualquer religião ou idioma: São Bilibeu, (Taquaritiua – Viana); São Raimundo dos Mulunduns, (Vargem Grande).
Carnavais de tradição.
Carnaval de Rua com seus blocos apresentando várias tribos indígenas tradicionais, encenando costumes ancestrais com apresentações rápidas, tendo como palcos as Ruas e Praças onde se apresentam. A presença inconfundível do Fofão, com máscaras representando o que é possível imaginar em termos de horror. Sempre com uma bonequinha na mão a oferecer. Se alguém pega, terá que pagar uma prenda em dinheiro. A principal finalidade do Fofão é espalhar terror por onde passa em crianças e espantar adultos. Quem mais persegue o Fofão são os cachorros, por onde quer que passem, sempre tem um cachorro para acuá-lo. As fanfarras chamadas de bloco, com nomes nada convencionais como Maquina de Descascar Alho; Jegue Folia; Caralho de Asa; Banda Bandida e assim segue o nosso Carnaval. Não fosse a demência de certo Prefeito de São Luís, na década de 1960, ter acabado com os Bailes de Máscara, com certeza hoje fariam grandes sucessos em suas apresentações. Clubes como Bigorrilho, Saravá etc.
Ligeira retrospectiva da segunda metade do século XX.
- Ilha de São Luís, onde se situa a Capital do Estado do Maranhão, na confluência dos rios Itapecuru Mirim e Rio Mearim, que por sua vez formam as Baias de São Marcos pelo oeste e São José de Ribamar pelo leste. Ao norte banhada pelo Oceano Atlântico e ao Sul, separada do continente pelo Estreito dos Mosquitos. Hoje dividida em quatro municípios: São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa. A ocupação territorial desorganizada, com invasões irregulares, edificações tipo palafitas na sua maioria, as sedes estão praticamente ligadas com essa urbanização distorcida, onde saneamento básico não existe. Com vias de interligação através de caminhos, vielas e estradas sem o mínimo de condições de trafegabilidade. O transporte urbano atende precariamente. Só há trechos pavimentados quando faz parte da malha viária permanente e Centros desenvolvidos. Com diferenças absurdas entre Áreas urbanizadas e Invasões.
À proporção que a Ilha vai sendo tomada por esses povoamentos, com a conivência das autoridades, que cruzam os braços para esperar os acontecimentos absurdos que ocorrem nas regiões. O resultado que temos hoje desse destrambelhado crescimento, sem dúvida o único progresso visível e comprovado foi à multiplicação da miséria na periferia, contraste com a pujança que nos foi o legado dos séculos XVIII e XIX, que a UNESCO reconheceu como PATRIMÔNIO MUNDIAL DA HUMANIDADE, que vem sendo abandonado ao longo dos anos.    Quando se aproxima as eleições, aparecem os políticos aproveitadores da situação, para com promessas mirabolantes, conquistarem votos dos desesperados, que vivem sem água potável, sem esgoto, sem transporte, sem escolas, sem atendimento médico, sem segurança, sem esperança de um dia morar num lugar digno de convivência humana. (Fotos 25 e 25A ).

Foto 25 - Invasão de Palafitas.
Foto 25/A - Ponta D' Areia Urbanizada.


De acordo com o senso do IBGE 2010, somos o Estado da Federação com a maior concentração de MISÉRIA, ou seja, o Estado do Maranhão é o 1º em POBREZA. Só nos resta o TROFÈU E A DIFICULDADE DE ESCOLHER O NOME DO “PIOR EX-GOVERNADOR”, DOS ÚLTIMOS 60 ANOS, que mandaram no Maranhão como se fosse donos, para recebê-lo. (Foto 26 e 26A). 
Foto 26 - Tributário do Rio Maiobinha.
Foto 26/A - Rio Maiobinha.



O lençol aqüífero natural da Ilha de São Luís é um presente de Deus. Os mananciais que transbordavam águas cristalinas não existem mais, nenhum sequer como exemplo histórico. Todos viraram canais aberto para escoamento de esgoto sanitário doméstico, hospitalar, industrial e de águas pluviais, que quando transbordam entupidos com lixo, invadem casas, causando muitos prejuízos aos proprietários de imóveis que ficam as margens dos antigos rios e áreas consideradas de risco. Verdadeira calamidade que se repete na época das chuvas, de fevereiro a junho, conhecido como o período de inverno em todo o Maranhão. Lixo que o próprio povo joga em qualquer lugar, pois a coleta só existe em áreas de Bairros onde tem trafegabilidade de caminhões de coleta, assim mesmo duas vezes por semana. A precariedade dos serviços é demonstrada pelo mau cheiro que exala em quase todas as ruas dos trechos urbanos de todos os municípios da Ilha. Todo o perímetro da Ilha de São Luís é de água salgada. Os Rios tributários do Golfão Maranhense, não alteram a salinidade do mar. Temos uma das marés mais altas do mundo. Equivalentes somente no Canadá e em Santa Catarina. A orla marítima é composta de barrancos, falésia, entrâncias, dunas de areia e praias. Em qualquer ponto que se cava, mesmo pequenos poços dão água potável, própria para o consumo humano. As margens de pequenos e médios rios com regimes das marés, na maré baixa surgiam bicas de água doce por todos os lados. Moradores próximos usavam para todas as utilidades diárias, inclusive para beber. Todas as praias usadas para banho dispõem de pequenos poços artesianos cavados em plena praia, com água doce, mesmo onde a maré banha, utilizada para uso doméstico habitual. Na Praia do Olho D’água, tinha uma cacimba revestida de pedras e tijolos, transformada em chafariz que os banhistas tiravam o sal do banho de mar. Os rios com nascentes no centro da Ilha, todos em péssimas condições, servindo de escoadouros de esgoto, usados descaradamente pela CAEMA, Empresa que explora o fornecimento de água e serviços de esgoto sanitário, cobrados proporcional o uso da água, isto é: o consumidor pagando para a CAEMA matar todos os rios da Ilha de São Luís, coletores de Esgotos Sanitários “in natura”. Poluindo e espalhando mau cheiro por onde passa. Rio da Maioba, Rio Paciência, Rio Calhau, Rio Maiobinha, Rio Anil, Rio Bacanga, Rio das Bicas, Rio da Prata, Rio Maracanã e todos os mananciais que existiam até nas décadas de 1950 e 1960, hoje são simplesmente adutoras de esgoto da CAEMA, que nunca foi responsabilizada por crime ambiental causado na Ilha de São Luís. (Foto 27).
Foto 27 - Cabeceira do Rio Anil.



Exemplo clássico do absurdo é o Rio Anil. Com suas colônias de sururu, que alem de servir de meio de vida para os moradores vizinhos, abastecia as feiras diariamente com seus frutos. O mesmo acontecia com o Rio Pau Deitado. Todos poluídos pelos esgotos de toda espécie que são canalizados para seus leitos, patrocinados pela CAEMA. (Foto 27A e 27B ). 
Foto 27/A - Rio Anil - Ipase.
Foto 27/B - Vila Isabel Cafeteira.



Há anos passados foi inaugurada a primeira e única estação de tratamento de esgoto, com tanta propaganda, que não atendia sequer 10% da demanda do centro da Cidade de São Luís. Hoje não se fala mais de tratamento de esgoto por parte da administração pública do Maranhão. Seus efeitos são sentidos no Último Título do IBGE: “O ESTADO MAIS POBRE” da Republica Federativa do Brasil.
Quando das instalações dos Grandes Projetos Industriais no Maranhão, aproveitando do Porto do Itaquí que tem um dos maiores calados do mundo, para exportação de nossas riquezas naturais e industrializadas. Projetos os da Vale que antes era do Rio Doce, que nos roubou o Doce, nos deixando somente o amargo de suas poluições no embarque de minério. Sem falar no estado de coma que se encontra o Rio Pindaré, com morte prematura anunciada até as cabeceiras. Com a Estrada de Ferro margeando o curso, toda a mata ciliar desapareceu. Os mananciais de suas cabeceiras já não brotam água suficiente para manter seu leito caudaloso. Existem trechos que no verão param de escorrer água. Inclusive grande parte de seu leito já é abastecido com o regime das marés.
A ALUMAR com o tipo de Indústria mais poluente do mundo aportou em São Luís, com suas instalações modernas de aproveitamento de bauxita, fabricação de alumínio, envelopando  lagos depósitos, cheios de poluentes dos mais perigosos, transformando em bombas de efeito retardado, sem prazo de validade.
Esses projetos contribuíram de certa forma com a migração de interioranos para a capital, em busca de melhores dias para suas famílias. Sem formação profissional, sem emprego, sem lugar para morar, a única solução foi à invasão de áreas sem condições mínimas de habitação.
Hoje São Luís é uma cidade sitiada, com aglomerados de palafitas por todos os lados formando favelas, com índice de pobreza muito próximo a miséria plena. Sem perspectiva de melhora, sem saber até quando esta situação perdurará. Por outro lado, com áreas urbanizadas e condomínios luxuosos, esbanjando a concentração de riquezas, que acontece onde a maioria da população sobrevive e convive com todas as mazelas, que oprime as classes desfavorecidas, como acontece em São Luís e todo o Estado do Maranhão.  (Foto 28, 28A e 28B).

Foto 28 - Ilhinha  - São Francisco.
Foto 28/B - São Luís - Moderna.
Foto 28/B - São Luis Moderna.



A pergunta que não quer calar é: Onde estão as riquezas que a ALUMAR e a VALE, prometeram com suas indústrias poluentes para São Luís e o Estado do Maranhão?

Lembranças e saudades.
Da travessia em pequenas lanchas da Praia Grande para Ponta D’Areia quando era pequena vila de pescadores, para tomar banho.
Dos catraieiros transportando passageiros do cais até as lanchas ancoradas na Praia Grande e Desterro com destino a Baixada Maranhense.   
Dos passeios de bonde, driblar os cobradores, saltar em movimento, ouvindo o som do sino batido pelo pé do Motorneiro e o registro dos pagantes pelo Cobrador. A falta de mentalidade e olhar do futuro, os bondes foram desativados, na década de 1960, seus trilhos destruídos para alargamento das avenidas para o tráfego de veículos. Nunca foi pensado o aproveitamento e adaptação para Metrô ou trens modernos. Sabendo-se que em país vizinho já tinha Metrô há mais de 60 anos. A Argentina. Hoje o trânsito em São Luís é um verdadeiro caos. O mesmo aconteceu com a linha férrea da REFESA, no trecho Estação Beira Mar – Tirirical, abandonada e invadida com palafitas, o que hoje seria alternativa de transporte de massa.

A NOSSA ANTES “ATENAS BRASILEIRA”, CORRE O RISCO DE SER “APENAS BRASILEIRA”.

Assis Galvão
Manaus, 18 de novembro de 2011.  






Um comentário:

  1. Bonita e importante história de São Luís, bem retratada aqui, com um texto primoroso e cheio de detalhes. Parabéns ao autor!

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